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O INSTITUTO GREGORIO BAREMBLITT nasce do encontro de um grupo de amigos com um desejo comum de reinventar novas práticas sociais. Para tanto constituímos uma associação sem fins lucrativos. Seu nome é uma homenagem ao psiquiatra, psicoterapeuta, professor, pesquisador, analista e interventor institucional, esquizoanalista, esquizodramatista e escritor Gregorio Franklin Baremblitt. Nosso desejo é que este dispositivo tenha uma inserção social e que possamos construir com nossa comunidade um Outro Mundo Possível.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

IGB traz consultor de direitos humanos para curso sobre Redução de Danos

“Se é da natureza humana ou se é do estimulo externo usar drogas, o que importa é que vão continuar usando, as legais e ilegais; e cabe a nós nos prepararmos cada vez melhor para conviver com isso”, diz Domiciano Siqueira



Lidar com usuários de drogas, que existem desde praticamente o começo da humanidade, não é uma tarefa fácil e que tenha uma solução.  Por isso, na tentativa de compreender esta realidade através de novas estratégias surgiu a política de Redução de Danos em 1926 na Inglaterra. No Brasil chega em 1989 e após a constituição da ONG (Organização Não Governamental) Aborda (Associação Brasileira de Redução de Danos), no ano de 1997 em São Paulo, começa-se a trabalhar efetivamente em outras capitais brasileiras como Porto Alegre, Salvador e Rio de Janeiro, principalmente.
A redução de danos age com uma proposta diferente da maioria das abordagens aos usuários de drogas. Enquanto algumas abordagens exigem abstinência antes mesmo de começar o tratamento, a redução de danos se propõe antes a escutar o usuário e o uso que ele faz das drogas e, partindo disso, agir reduzindo tanto quanto possível os eventuais prejuízos que vem sendo acarretados a esse indivíduo pelo uso indevido das drogas, bem como orientá-lo no sentido de fazer um uso menos prejudicial.
Inserido nesta política, o Instituto Gregório Baremblitt (IGB) de Frutal trouxe o presidente da Aborda e consultor em direitos humanos do Ministério da Saúde, Domiciano Siqueira, para ministrar um curso com o tema Sensibilização e Capacitação, Exclusão Social e Redução de Danos.




Durante cinco meses, sendo um encontro por mês, aos sábados, 30 profissionais de diversas áreas de Frutal e região aprenderam sobre esta política nacional de enfrentamento às questões ligadas ao uso de drogas. 
Natural de Itajubá, Domiciano, que mora em São Paulo, em 1992 mudou-se para Porto Alegre a fim de trabalhar na Cruz Vermelho que tinha um tratamento fundamentado na questão da redução de danos. Conta que em 2008, em projeto financiado pela Saúde Mental do Ministério da Saúde, chamado Roda Brasil, foram constituídos mobilizadores e suplentes em cada estado, e coordenadores em cada região para se desenvolver as políticas da Redução de Danos.
Sobre o curso, que mostra o trabalho destes profissionais, Domiciano explica que buscou levar novas propostas a lidar com usuários de drogas; a partir de três pontos fundamentais: sensibilização, capacitação e a supervisão. “Precisamos tocar o coração das pessoas e trabalhar com novas estratégias. A redução de danos nasce na saúde pública, mas foi se ampliando para outras áreas do conhecimento. Então, trabalhar com usuários de drogas não é só uma questão de saúde pública, mas também de educação, direito e justiça”, explicou Domiciano.    



A psicóloga Sônia Maria Montalvão da cidade de Fronteira diz que é uma nova pessoa porque acredita que atingiu o objetivo do curso, ou seja, ter um novo olhar sobre o dependente químico. Para representar sua nova visão, ela criou um Monólogo intitulado “O Zé Drogado”. Ao ler ao final do curso, na tarde do último sábado, 19, emocionou a todos que receberam os certificados. “Eu tinha receio com o “drogado” já estigmatizado pela sociedade como um marginal, desocupado; e o que esperava da pessoa? Tudo de ruim. Ao eu desconstruir esta visão pude perceber o ser humano que existe; que sofre e quer se colocar no mundo; é nos que temos que mudar, acolhendo-os e respeitando-os dentro dos Direitos Humanos”.
Para Jorge Luiz Beck de Souza, psicólogo que veio de Uberaba para fazer o curso, uma grande visão que adquiriu foi a quebra de paradigmas e não desistir nunca da figura do usuário. “Temos que buscar a compreensão da realidade que este ser humano vive; na sua dor. É muito diferente de incentivar o uso da droga e compreender esta realidade crescente cuja as metodologias tradicionais como trabalhar a abstinência vem falhando e os resultados são precários e poucos”, comentou.  
Gisleine Maria Silva, que está no terceiro ano do Curso de Serviço Social, disse que pretende, quando se formar, trabalhar junto a uma equipe com a política da Redução de Danos. “Ninguém deixa de usar drogas de um dia para o outro. O curso faz você valorizar a pessoa enquanto ser humano. Infelizmente, as políticas públicas que cuidam destas pessoas são ineficientes”, declarou Gisleine.  




















As estratégias de reduções de danos levam também para a sociedade a necessidade da discussão sobre a legalização das drogas. Na opinião de Domiciano, o mundo caminha para a legalização de todas as drogas. “A sociedade deve demorar a entender que a melhor maneira de lidar com as drogas é legalizando. É importante dizer que legalizar não significa liberar para ser vendido em toda a esquina; legalizar significa regulamentar. É essa a nossa grande defesa, ou seja, fazer com as drogas ilícitas o que se faz com as lícitas”.   
Ainda segundo o consultor de direitos humanos, a redução de danos traz polêmicas porque somos uma sociedade que não está preparada para enfrentar os seus reais problemas. “Há a existência de muitas pessoas que usam este ou aquele tipo de substância por prazer ou para minimizar a dor, ou ainda por questões culturais. A redução de danos traz para nossa sociedade a necessidade de se debater o tema e de criar alternativas que passem pela necessidade da legalização e da regulamentação deste consumo. Se é da natureza humana ou se é do estimulo externo usar drogas, o que importa é que vão continuar usando, as legais e ilegais; e cabe a nós nos prepararmos cada vez melhor para conviver com isso”, diz Domiciano Siqueira. Ele acredita que, apesar do usuário de droga ter o direito sobre próprio corpo, deve entender sobre as responsabilidades. “É possível usar drogas e tomar todos os cuidados necessários; não é uma brincadeira. Não pode ser como hoje. No Brasil é muito fácil. Basta encostar num terreno baldio, numa praça, ou até na escola. E usa-se; não se fala sobre o assunto na família, nas igrejas, na saúde pública e em lugar nenhum”, finaliza Domiciano.
Assim, o curso sintetiza que no Brasil temos a necessidade de nos reorganizarmos e de trabalharmos com estes grupos de exclusão social de uma forma mais objetiva para que se diminua os custos da saúde pública, aumentando a efetividade das ações das reduções de danos e assim buscando diminuir o nível de violência e doenças nestes grupos.                          

(Renato Manfrim)