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O INSTITUTO GREGORIO BAREMBLITT nasce do encontro de um grupo de amigos com um desejo comum de reinventar novas práticas sociais. Para tanto constituímos uma associação sem fins lucrativos. Seu nome é uma homenagem ao psiquiatra, psicoterapeuta, professor, pesquisador, analista e interventor institucional, esquizoanalista, esquizodramatista e escritor Gregorio Franklin Baremblitt. Nosso desejo é que este dispositivo tenha uma inserção social e que possamos construir com nossa comunidade um Outro Mundo Possível.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

CURSINHO POPULAR DO INSTITUTO GREGÓRIO BAREMBLITT: MUDANÇA - LUCAS OLIVEIRA


O Instituto Gregório Baremblitt, através de seus membros, organizou no mês de outubro um cursinho gratuito com o intuito de colaborar com os estudos pessoas que fossem prestar o Vestibular Uemg 2012 e não tivessem acesso a outras instituições de ensino ou meio de pagá-las. O público alvo estava nos bairros da periferia de Frutal, os bairros mais pobres da cidade. O cursinho teve funcionamento em uma sala da escola Frei Teodósio. Diversos professores da cidade tiveram a sorte de participar dessa empreitada. Eu sou um deles.

Quando dei a primeira aula a minha preocupação era ser um bom professor, claro. Dar o máximo de conteúdo em um mínimo de tempo, afinal a prova estava muito próxima, de forma interessante e compreensível, que fosse aplicado ao máximo para a resolução da prova.

Cheguei na sala, me apresentei e comecei a dar aula. Não conversaram, não se entreolharam, estavam verdadeiramente atentos ao que eu dizia. Ou à minha cara: não sou bonito, sou careca e tenho uma tendência natural a ser antipático. Mas não era isso. Era só o primeiro impacto. Meia hora depois já faziam perguntas, já comentavam, já participavam. No final do primeiro dia eu acho que já tinha alguns amigos ali.

Esses alunos são pessoas muito interessantes. Quase todos trabalhadores. Apenas algumas mocinhas que ainda fazem o ensino médio. Uma jovem senhora faz pães e participa da Feira do Pequeno Produtor, outra vem de Aparecida de Minas para estudar. Tem duas irmãs que vendem doces, enxovais e sapatos pela região. Uma outra trabalha em um bar. Grande parte trabalha no comércio de Frutal, e já pararam de estudar a algum tempo. Tem um senhor aposentado, sentado no fundo da sala, talvez o mais atento de todos e bastante questionador.

E suas histórias são ainda mais interessantes. Sim, eu ouço todas, talvez, mais atento do que eles ao que eu digo sobre Gramática da Língua Portuguesa ou Literatura Brasileira. O que fizeram no dia, o que aconteceu com o irmão, o filho que precisa ir ao médico, o pai com Alzheimer, o patrão chato, o cliente arrogante, o buraco na rua que quase entortou o pneu da moto, o calor, a chuva. São pessoas normais, em suas relações normais comigo e com o mundo como o conhecem.

Aprendi com o tempo e com a faculdade o poder transformador da educação. Esses vestibulandos também acreditam nesse poder de transformação. Eles acreditam nas possíveis mudanças que suas vidas terão depois de fazerem uma faculdade de Direito, Administração, Comunicação Social ou Geografia. Eles não são inocentes. Sabem que não é o fato de ter um diploma de curso superior o que vai fazê-los mudar de vida. É o processo em si, de estudar, de buscar, de aprender, que pode mudar tudo.

Uma leitura crítica do mundo só pode ser feita através do constante aprendizado, do pensamento, da resolução do conflito, do reconhecimento de sua realidade. É poder saber que somos, quase todos, oprimidos. E depois disso podermos criar algo novo, buscar saídas, e trabalhar para conseguir viver dignamente escapando como pudermos dessa situação de opressão.

Ideia maluca essa de ajudar pessoas a mudarem suas vidas, assim de graça, sem pretensão outra que não apenas ajudar. Pessoas malucas assim sempre existiram e sempre que puderam fizeram um pouco de diferença da massa amorfa que costumamos nos tornar quando nos acomodamos. Acontece que é muito fácil se acomodar. Eu estava bastante acomodado, mas vendo a vontade de mudança dessas pessoas eu entendi que o caminho estava errado.

O homem continua sendo feito de esperanças. Tem quem chame isso de ambição. E é muito bom ver que mesmo com todas as preocupações diárias, o dinheiro que falta, o trabalho que sobra, e a família que sustenta e que também tem de ser sustentada, mesmo tendo que correr todos os dias para conseguir tudo o que se precisa, algumas pessoas se dispuseram a sonhar com uma mudança. Uns estudando, outros pretensiosamente ensinando.

A mudança é fatal.

E o sonho está em todos nós.

Lucas Oliveira, é o professor de língua portuguesa e literatura do Cursinho Popular do IGB.


segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Cursinho Popular do IGB dá oportunidade àqueles que haviam parado de estudar





Com o desejo de concluir o ensino superior, trinta frutalenses de várias faixas etárias, que não têm condições de pagar um cursinho particular, voltaram a estudar depois do Instituto Gregório Baremblitt (IGB) de Frutal dar a oportunidade de um cursinho popular voltado para o vestibular da UEMG, campus Frutal. Este processo seletivo aconteceu no último domingo, 27. Após isso, todos os envolvidos deste projeto social, ou seja, os alunos, sete professores e organizadores se confraternizaram na sede do IGB. As aulas do cursinho, durante 45 dias, aconteceram na Escola Municipal Frei Teodósio.
Dois anos parada após terminar o terceiro colegial, Jéssica Ferreira, 19 anos, que prestou administração de empresas, disse que graças à oportunidade voltou a tomar gosto pelos estudos. “A gente relembrou e aprendeu. Foram pessoas de várias faixas etárias. Tinha pessoas longe dos estudos há 10 e até 15 anos. O cursinho do Instituto veio em ótima hora para todos”, comemora.  
Assim como Jéssica, Joyce Evelin Borges dos Santos, 22 anos, há cinco anos fora da escola, foi exemplo de superação e vontade de crescer na vida. Tentando Comunicação Social, ela também diz que o Cursinho Popular do IGB veio de encontro ao seu desejo de voltar a estudar e assim sonhar com uma vida melhor. “Quando fiquei sabendo fui logo fazer minha inscrição. Relembrei muitas coisas e aprendi outras que nem me interessava antigamente”, disse Joyce.
Para a terapeuta ocupacional do IGB Frutal, Alzimara Belo, todos os professores contribuíram socialmente com a causa e assim os alunos foram bem preparados para o vestibular.  “E todos obtiveram êxito na correção de seus gabaritos. Então eu acho que foi um esforço que valeu muito a pena; e a gente pretende no ano que vem dar continuidade a este projeto que nasceu de uma vontade de transformação social”, destacou Mara.
O Cursinho Popular IGB também deu oportunidade ao universitário José Penha. Ele, que está no segundo ano de Direito da UEMG, pela primeira vez atuou como professor de História e Inglês. Para José, o “mergulho” no universo de lecionar fez com que descobrisse o seu potencial. “Aprendi a encarar as coisas mais de frente. Eles me ensinaram mais do que eu a eles. Passaram-me muito de ousadia, de preparação, de paciência e de confiança”, comemora o universitário.  (Renato Manfrim)  

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

IGB traz consultor de direitos humanos para curso sobre Redução de Danos

“Se é da natureza humana ou se é do estimulo externo usar drogas, o que importa é que vão continuar usando, as legais e ilegais; e cabe a nós nos prepararmos cada vez melhor para conviver com isso”, diz Domiciano Siqueira



Lidar com usuários de drogas, que existem desde praticamente o começo da humanidade, não é uma tarefa fácil e que tenha uma solução.  Por isso, na tentativa de compreender esta realidade através de novas estratégias surgiu a política de Redução de Danos em 1926 na Inglaterra. No Brasil chega em 1989 e após a constituição da ONG (Organização Não Governamental) Aborda (Associação Brasileira de Redução de Danos), no ano de 1997 em São Paulo, começa-se a trabalhar efetivamente em outras capitais brasileiras como Porto Alegre, Salvador e Rio de Janeiro, principalmente.
A redução de danos age com uma proposta diferente da maioria das abordagens aos usuários de drogas. Enquanto algumas abordagens exigem abstinência antes mesmo de começar o tratamento, a redução de danos se propõe antes a escutar o usuário e o uso que ele faz das drogas e, partindo disso, agir reduzindo tanto quanto possível os eventuais prejuízos que vem sendo acarretados a esse indivíduo pelo uso indevido das drogas, bem como orientá-lo no sentido de fazer um uso menos prejudicial.
Inserido nesta política, o Instituto Gregório Baremblitt (IGB) de Frutal trouxe o presidente da Aborda e consultor em direitos humanos do Ministério da Saúde, Domiciano Siqueira, para ministrar um curso com o tema Sensibilização e Capacitação, Exclusão Social e Redução de Danos.




Durante cinco meses, sendo um encontro por mês, aos sábados, 30 profissionais de diversas áreas de Frutal e região aprenderam sobre esta política nacional de enfrentamento às questões ligadas ao uso de drogas. 
Natural de Itajubá, Domiciano, que mora em São Paulo, em 1992 mudou-se para Porto Alegre a fim de trabalhar na Cruz Vermelho que tinha um tratamento fundamentado na questão da redução de danos. Conta que em 2008, em projeto financiado pela Saúde Mental do Ministério da Saúde, chamado Roda Brasil, foram constituídos mobilizadores e suplentes em cada estado, e coordenadores em cada região para se desenvolver as políticas da Redução de Danos.
Sobre o curso, que mostra o trabalho destes profissionais, Domiciano explica que buscou levar novas propostas a lidar com usuários de drogas; a partir de três pontos fundamentais: sensibilização, capacitação e a supervisão. “Precisamos tocar o coração das pessoas e trabalhar com novas estratégias. A redução de danos nasce na saúde pública, mas foi se ampliando para outras áreas do conhecimento. Então, trabalhar com usuários de drogas não é só uma questão de saúde pública, mas também de educação, direito e justiça”, explicou Domiciano.    



A psicóloga Sônia Maria Montalvão da cidade de Fronteira diz que é uma nova pessoa porque acredita que atingiu o objetivo do curso, ou seja, ter um novo olhar sobre o dependente químico. Para representar sua nova visão, ela criou um Monólogo intitulado “O Zé Drogado”. Ao ler ao final do curso, na tarde do último sábado, 19, emocionou a todos que receberam os certificados. “Eu tinha receio com o “drogado” já estigmatizado pela sociedade como um marginal, desocupado; e o que esperava da pessoa? Tudo de ruim. Ao eu desconstruir esta visão pude perceber o ser humano que existe; que sofre e quer se colocar no mundo; é nos que temos que mudar, acolhendo-os e respeitando-os dentro dos Direitos Humanos”.
Para Jorge Luiz Beck de Souza, psicólogo que veio de Uberaba para fazer o curso, uma grande visão que adquiriu foi a quebra de paradigmas e não desistir nunca da figura do usuário. “Temos que buscar a compreensão da realidade que este ser humano vive; na sua dor. É muito diferente de incentivar o uso da droga e compreender esta realidade crescente cuja as metodologias tradicionais como trabalhar a abstinência vem falhando e os resultados são precários e poucos”, comentou.  
Gisleine Maria Silva, que está no terceiro ano do Curso de Serviço Social, disse que pretende, quando se formar, trabalhar junto a uma equipe com a política da Redução de Danos. “Ninguém deixa de usar drogas de um dia para o outro. O curso faz você valorizar a pessoa enquanto ser humano. Infelizmente, as políticas públicas que cuidam destas pessoas são ineficientes”, declarou Gisleine.  




















As estratégias de reduções de danos levam também para a sociedade a necessidade da discussão sobre a legalização das drogas. Na opinião de Domiciano, o mundo caminha para a legalização de todas as drogas. “A sociedade deve demorar a entender que a melhor maneira de lidar com as drogas é legalizando. É importante dizer que legalizar não significa liberar para ser vendido em toda a esquina; legalizar significa regulamentar. É essa a nossa grande defesa, ou seja, fazer com as drogas ilícitas o que se faz com as lícitas”.   
Ainda segundo o consultor de direitos humanos, a redução de danos traz polêmicas porque somos uma sociedade que não está preparada para enfrentar os seus reais problemas. “Há a existência de muitas pessoas que usam este ou aquele tipo de substância por prazer ou para minimizar a dor, ou ainda por questões culturais. A redução de danos traz para nossa sociedade a necessidade de se debater o tema e de criar alternativas que passem pela necessidade da legalização e da regulamentação deste consumo. Se é da natureza humana ou se é do estimulo externo usar drogas, o que importa é que vão continuar usando, as legais e ilegais; e cabe a nós nos prepararmos cada vez melhor para conviver com isso”, diz Domiciano Siqueira. Ele acredita que, apesar do usuário de droga ter o direito sobre próprio corpo, deve entender sobre as responsabilidades. “É possível usar drogas e tomar todos os cuidados necessários; não é uma brincadeira. Não pode ser como hoje. No Brasil é muito fácil. Basta encostar num terreno baldio, numa praça, ou até na escola. E usa-se; não se fala sobre o assunto na família, nas igrejas, na saúde pública e em lugar nenhum”, finaliza Domiciano.
Assim, o curso sintetiza que no Brasil temos a necessidade de nos reorganizarmos e de trabalharmos com estes grupos de exclusão social de uma forma mais objetiva para que se diminua os custos da saúde pública, aumentando a efetividade das ações das reduções de danos e assim buscando diminuir o nível de violência e doenças nestes grupos.                          

(Renato Manfrim)  


segunda-feira, 10 de outubro de 2011

CURSO INTENSIVO DO INSTITUTO GREGÓRIO BAREMBLITT - CURSO PREPARATÓRIO VESTIBULAR DA UEMG


APROVADOS INTENSIVÃO UEMG – IGB

AMANDA STEFANI SILVA REIS
AMILTON FÁBIO PEREIRA
CICERA FERREIRA DA SILVA
DOUGLAS DOS SANTOS
DANIEL DOS SANTOS
DANIEL DOS SANTOS JUNIOR
DIEGO MARTINS FERREIRA
ISABEL DA SILVA SOUZA
JÉSSICA FERREIRA DE CARVALHO
JOICI EVELIN BORGES DOS SANTOS
LARICE SONODA NADALON SILVEIRA
MAKLENE IVO DA CRUZ
MARCELLA MONA DE SOUZA LOURENÇO
MÁRCIA LUÍZA DE PAULA BORGES
MEYRELLE CORDEIRO FARIAS
MÔNICA REGINA BONIFÁCIO
PATRÍCIA RIBEIRO DOS SANTOS LACERDA
REGIANE GONZAGA MARTINS
ROBERTA MENDES DOS SANTOS
YULI DUARTE ANDRADE
TALITA BORGES TAVARES
MARIA CRISTINA DA MATA

LISTA DE ESPERA

1.     ANTONIA FERREIRA DA SILVA
2.     JAINE RODRIGUES OLIVEIRA
3.     IZETE SILVA MENEZES
4.     AFONSO LUIZ QUEIROZ
5.     RENATO LUDVIG ZALIN JUNIOR

CURSO INTENSIVO DO INSTITUTO GREGÓRIO BAREMBLITT - CURSO PREPARATÓRIO VESTIBULAR DA UEMG




"Educar é impregnar de sentido o que fazemos a cada instante!"
Paulo Freire

Curso intensivo para os estudantes de baixa renda que já concluíram o ensino médio e têm interesse em cursar a Universidade do Estado de Minas Gerais.

O curso é totalmente gratuito, inclusive o material de estudo.

Processo seletivo dia 9 de outubro de 2011 às 13h00min, no Salão Paroquial, Praça da Matriz, nº 90, Centro, Frutal/MG.


CURSO INTENSIVO DO INSTITUTO GREGÓRIO BAREMBLITT - CURSO PREPARATÓRIO VESTIBULAR DA UEMG


1 – ORIENTAÇÕES

O Curso Intensivo para o Vestibular da UEMG, oferecido pelo Instituto Gregório Baremblitt, tem como objetivo atender estudantes de baixa renda que estão concluindo ou já concluíram o ensino médio.

As matrículas serão realizadas no Instituto Gregório Baremblitt, rua Antônio de Paula, nº 4, Centro, Frutal/MG, tel. 34 3421-0147.

O curso será oferecido gratuitamente. Não será cobrada qualquer tipo de taxa do estudante que se matricular.

Os conteúdos serão abordados e desenvolvidos tomando-se como referência as questões que foram propostas nas provas dos últimos vestibulares da UEMG. Esse material será oferecido ao aluno e será a partir dele que o curso será desenvolvido.

Serão oferecidas 20 vagas.

O estudante deverá participar de um processo de seleção.

2 - Para se inscrever no processo de seleção, o estudante deverá apresentar:

Ø    1 foto 3 x 4.
Ø    RG original acompanhado de uma cópia deste documento.
Ø    A última conta da CEMIG acompanhada de uma cópia deste documento.
Ø    Comprovante de inscrição no Vestibular UEMG 2012.

3 - INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES

No dia 10 de outubro, nesta próxima segunda feira, entre 13h00min e 18h00min hs, o estudante deverá entrar em contato, via telefone, com o Instituto Gregório Baremblitt para saber se foi aprovado no processo de seleção e confirmar sua matrícula no curso.

As aulas terão início nesta segunda-feira, 10/10/2011, às 19h00min e irão até o dia 26 de novembro, sábado, véspera do vestibular da UEMG, às 19h00min.

O curso será oferecido de segunda à sábado:

Às segundas: das 19h00min às 22h00min30min.
Aos sábados: das 14hs às 19 horas.

Funcionará de forma auto-gestiva com avaliações semanais do curso feitas pelos estudantes.

O prazo para inscrição no Vestibular da UEMG termina no dia 07 de outubro de 2011.

O Vestibular da UEMG  será realizado no dia 27 de novembro de 2011.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

A CRISE DO ESTADO CONTEMPORÂNEO À LUZ DAS REVOLTAS POPULARES DO MAGREB, ORIENTE PRÓXIMO, EUROPA E AMÉRICA LATINA


OS RISCOS ESCONDIDOS DO CRACK





Antonio Lancetti*
Um dos maiores riscos da incidência do crack no cenário nacional é o da interrupção do processo de construção do sistema público de saúde mental brasileiro, tido como exemplar por representantes da Organização Mundial de Saúde, inclusive para países de grande porte, como Índia ou China.

A lei argentina de saúde mental, recentemente promulgada, é baseada em nossa lei, a 10.216, com a
diferença de que no país vizinho a internação compulsória deve ser decidida pela família e por uma equipe multidisciplinar com, pelo menos, a assinatura de um médico e um psicólogo. Aqui, basta a assinatura do médico.

Esse processo de construção de nosso SUS da Saúde Mental chama-se reforma psiquiátrica pelo fato de que nas últimas décadas foram fechados vários locais de horror (em torno de 60 mil leitos), onde a simples permanência de alguns dias deixaria qualquer leitor pelo menos mais deprimido do que entrou.

O resgate de cada um desses seres humanos exigiu um enorme esforço por parte dos terapeutas. A suspensão dos procedimentos iatrogênicos, como sequestro, maus tratos, tempos e espaços fixos e repetitivos e outras formas de desrespeito aos direitos, não foi suficiente.

Houve necessidade de criar, utilizando todos os saberes existentes (psiquiatria, psicanálise, psicologia social, socioanálise, esquizoanálise, arte, economia solidária, etc.), instituições velozes, criativas que operam onde as pessoas habitam.

Os chamados CAPS - Centros de Atenção Psicossocial vão se constituindo em serviços de 24 horas de funcionamento, com internações, integrados a serviços de emergência e moradias terapêuticas onde moram oito pessoas que saíram de internações de 10 ou 20 anos, mostram que o hospital psiquiátrico é cada vez mais prescindível.

Além desses serviços, hoje se faz saúde mental nos mais recônditos locais por meio da parceria de equipes especializadas com médicos de família, enfermeiros e agentes comunitários de saúde, atendendo inclusive casos graves, ajudando na diminuição da internação psiquiátrica, da violência e do consumo de drogas legais e ilegais.

Mas o chamado Movimento da Luta Antimanicomial (que conta com usuários e familiares de usuários) está em uma encruzilhada. Aprendeu a cuidar de casos graves desconstruindo manicômios e atendendo as crises nos bairros, melhorando a reabilitação das pessoas com grave sofrimento psíquico e agora, com o advento dos dependentes de crack, expostos na paisagem urbana e na mídia, devem enfrentar um clamor pelas internações em clínicas fechadas, primas-irmãs dos hospícios.

As cracolândias onde qualquer um é aceito são ao mesmo tempo manicômios a céu aberto, no dizer de Franco Rotelli, um dos principais líderes da Psiquiatria Democrática Italiana**.

Mas transformaremos esses manicômios criando outros manicômios?

As cracolândias são os manicômios pós-modernos, e os craqueiros os loucos do século XXI. E estão aí, nas regiões degradadas das cidades para mostrar nosso fracasso, nossa miséria existencial consumista. O modo como vamos enfrentar a questão expressará nossa sabedoria e ética.

O artigo de Drauzio Varella, da Folha de S.Paulo de 16 de julho, convoca a internação compulsória dos craqueiros e craqueiras e termina perguntando: "Se fosse seu filho, você o deixaria de cobertorzinho nas costas dormindo na sarjeta?".

Essa pergunta sugere imediatamente a diferenciação de crianças e adultos. Mesmo com famílias que não se importem com o cobertorzinho nas costas, interná-los à força implica a existência de um vínculo que se aproxime ao de pai e mãe. Gerará ódio, ressentimento e futuras rebeliões se forem brutalmente recolhidos e amontoados em grande número ou com metodologias negativas e baseadas exclusivamente na abstinência.

Em segundo lugar, o que o doutor Drauzio talvez não saiba (e acredito que gostaria de saber) é que muitos desses homens, mulheres e crianças estão com graves problemas de saúde e já estão sendo internados em São Paulo (embora o sistema precise ser aperfeiçoado), em hospitais gerais e atendidos em Unidades Básicas de Saúde por equipes de Saúde da Família, pois eles não pedem para ser tratados da dependência, mas demandam atendimentos clínicos e, como consequência do vínculo com seus cuidadores, muitos pedem ajuda para abandonar o uso.

Internar ou prender todos os craqueiros é tão ideológico como pensar que eles vão sair daí pela própria vontade. Ou dito de outra forma, o problema não é internar - que na prática funciona como uma redução de danos -, mas sim como internar e, principalmente, onde e com que perspectivas.

E o que faremos com instituições fechadas que já estão sendo criadas pelo Brasil afora, especialmente as denominadas comunidades terapêuticas? Como se sabe, as instituições de contenção fundamentadas na abstinência possuem uma tendência à cronificação e algumas usam recursos violentos ou não se adequam às regras sanitárias vigentes.

As instituições que cuidam de crianças e adolescentes usuários de drogas não podem ser de contenção, mas de aceleração e criatividade. Em São Bernardo, por exemplo, há Centros de Atenção 24 horas para adolescentes dependentes de drogas, moradias fundamentadas em propostas pedagógicas de ação: meninos e meninas têm atividades o dia inteiro e à noite sessões de cinema. Em Vitória, Espírito Santo, o atendimento é feito a partir das equipes de Saúde da Família associadas ao CAPS Álcool e Drogas ou pelo consultório de rua... E há muitos trabalhos interessantes sendo realizados no Brasil.

Nessa hora de desespero, devemos tomar cuidado com os fenômenos que costumo chamar contrafissura ou tentação de cair no erro da guerra às drogas infiltrado na clínica e no alarmismo infundido na população.

A intervenção nas cracolândias exige ação e calma. Por enquanto no Brasil, a única pesquisa que demonstrou ter êxito significativo, em torno de 70%, foi a realizada pela UNIFESP - "O uso de cannabis por dependentes de crack - um exemplo de redução de danos", Eliseu Labigaline Jr. in Consumo de Drogas Desafios de Perspectivas, de Fábio Mesquita e Sergio Seibel, Ed. Hucitec, 2000 -, livro que leva apresentação de Drauzio Varella. A pesquisa constata mudança de comportamento, como parar de roubar a família, voltar a estudar, trabalhar e, inclusive, parar de usar maconha.

Mas nenhuma estratégia parece ser aplicável como receita única. Calma não significa paralisia, mas enfrentar o problema em sua complexidade de modo a não interromper o processo vitorioso e eficaz da reforma
psiquiátrica, mas aprofundá-lo.

Os riscos são muitos e, por isso, é sempre bom lembrar de que o problema das drogas está longe de depender exclusivamente da saúde. O termômetro que avaliará o valor e a ética do processo será a observância ou não dos diretos das pessoas assistidas e, consequentemente, a sua eficácia.
*Psicanalista, autor de Clínica Peripatética, Editora Hucitec.
**Acompanhei os doutores Franco Rotelli e Angelo Righetti em uma visita à cracolândia de São Paulo e a expressão me foi transmitida por Roberto Tykanori, coordenador nacional de saúde mental.




III Congresso Internacional de Esquizoanálise e Esquizodrama Saúde Mental e Direitos Humanos




III Congresso Internacional de Esquizoanálise e Esquizodrama
Saúde Mental e Direitos Humanos
   
Dia 23 de setembro (sexta-feira)

A partir de 10:00h
Credenciamento- Saguão do auditório

Auditório

14:00 às 17:00h (módulo 1)
Mini-curso: Introdução ao Esquizodrama.
Jorge Bichuetti (Ub), Maria de Fátima Oliveira (Ub), Patrícia Ayer de Noronha (BH)

*** Inscrições no site www.fgbbh.org.br . Inscrições limitadas.


19:00 às 19:30h
Mesa de abertura
Participantes: Alfonso Lans (Uruguai), Maria de Fátima Oliveira (Ub), Carmem Lícia Macedo (BH), Margarete Amorim (BH), Celso Peito Macedo (Frutal)


19:30 às 21:00h
Mesa: Esquizoanálise - O Capitalismo Mundial Integrado e sua Crise Contemporânea. Império.
Participantes: Alfredo Martin (RS), Jorge Bichuetti (Ub), Gregório Baremblitt (BH)
Mediadora: Margarete Amorim (BH)


Dia 24 de setembro (sábado)

9:00 – 10:30h


Auditório
Mesa: Saúde Mental e Direitos mais que Humanos: Panorama Atual.
Participantes: Adriana Molas (Uruguai), Marta Zappa (RJ), Marta Elizabete de Souza (BH)
Mediadora: Maria de Fátima Oliveira (Ub)


Sala 01
Esquizodrama: Klínica do Evento – Devir e Acontecer.
Participantes: Kamilla de Falco (Ub), Patrícia Ayer de Noronha (BH), Abadia Lúcia da Cruz (Ub)

Sala 2
Mesa: “O que é a Filosofia... ou como funciona”.
Participantes: Clarissa Alcântara (BH), Neuza Beatriz Henriques (BH), Lidiston Pereira da Silva (BH)
Mediadora: Sabrina Andrade (BH)


Sala 3
Mesa: Esquizoanálise - Violência contra crianças e adolescentes.
Participantes: Maria Tereza Rodrigues da Cunha (Ub), Jorge Volnovich (Argentina), Margarete Amorim (BH).
Mediadora: Simoni Vitarelli (BH)


Sala 4
Mesa: Movimentos Urbanos: cartografias e modos de resistência.
Participantes: Fidélis Alcantra (Integrante do Comitê Popular dos Atingidos pela Copa 2014 – COPAC), Tiago Monge (Integrante da Família de Rua e Dueto de MC's), Rafael Barros (Integrante da Praia da Estação), Jorge Bichuetti (Universidade Popular Juvenal Arduíne)
Mediadora: Elizabete Gomes de Almeida (BH)


Sala 5
Mesa: Desigualdades Sociais e Desafios para a Psicologia.
Participantes: Maria Aparecida de Miranda (SP), Maria Estela Sanábria Bourman (MG), Paulo Roberto Martins Maldos (DF)
Mediador: Milton Bicalho (BH)


Sala 6
Esquizodrama: Capoeira e Arte- Experimentações Cotidianas.
Kelly Dias Vieira (BH), Leandro César Ribeiro Couri (BH), Maria Luiza Marques Cardoso (BH)


11:00 – 12:30h

Esquizodrama Coletivo.
Saguão do Instituto de Educação.
Maria de Fátima Oliveira (Ub), Jorge Bichuetti (Ub), Margarete Amorim (BH)


Sala 3
Mesa: Klínicas do Corpo.
Participantes: Júlia Panadés (BH), Neusa Beatriz Henriques (BH), Cláudio Márcio Lima (BH), Matheus Silva (BH)
Mediador: Félix Berzins (RJ)


Sala 4
Mesa: Dispositivos da klinica: ampliada, social, individual.
Participantes: Espaço Arte e Devir (RS), Espaço Travessias (RS)
Sala 5
Apresentação de Trabalhos
Mediadora: Júnia Sábato (BH)


Sala 6
Esquizodrama: Dança do Ventre- via de abertura para a vida múltipla.
Coletivo Devir (SP)


Almoço



14:30 – 16:00h

Auditório
Mesa: Análise Institucional e Processos Instituintes.
Participantes: Jorge Volnovich (Argentina), Eduardo Losicer (RJ), Túlio Alberto Figueiredo* (ES), William Castilho (BH).
Mediadora: Carmen Lícia Macedo (BH)


Sala 1
Esquizodrama - Klínica da Produção de Produção, de Reprodução e Anti-produção.
Participantes: Neuza Beatriz Henriques (BH), Matheus Silva (BH), Cláudio Márcio de Lima (BH)


Sala 2
Mesa: Esquizoanálise e Direitos mais que Humanos.
Participantes: Fábio Martins (PR), João Paulo Vasconcelos (BH), Lidiston Pereira da Silva (BH), Milton Bicalho (BH)
Mediador: Rafael Soares Mariano (PA)


Sala 3
Mesa: Esquizoanálise, Esquizodrama e Saúde Mental – Infância e juventude.
Participantes: Gabriela Steffen (Argentina), Jorge Golini (Argentina) Ângela Vieira (SP), Ludmilla Souto Viana (Frutal)
Mediador: Glaura Fraga (ES)

Sala 4
Mesa: Esquizoanálise e a problemática da dependência química.
Participantes: Jorge Bichuetti (Ub), Paulo César Francisco (OP), Silvana Maia (BH)
Mediador: Lincoln José Almeida* (TO)

Sala 5
Mesa: Nomadologia e Povoamento de Dobras esquizo-análises entre esquinas, encontros e acasos.
Participantes: Roberta Stubs Parpinelli (PR), Rogério Felipe Teixeira (BH), Marcelo Fontes (França)


Sala 6
14:30 às 16:00h
Esquizodrama: Klínica da Diferença/Repetição.
Kamilla de Falco (Ub), Priscila Tamis*(SP)



16:30 – 18:00h


Auditório
Mesa: Esquizoanálise e Esquizodrama - Arte, literartura e outras semióticas.
Participantes: Marcelo Kraiser (BH), Marília Muylaert (SP), Roberta Stubs Parpinelli (PR), Domenico Uhng Hur (GO)
Mediadora: Clarissa Alcântara (BH)


Sala 1
Esquizodrama: Klínica da Multiplicitação Dramática.
Participantes: Fernando Yonezawa (SP), Ângela Vieira (SP), Magda Sarmento (BH)


Sala 2
Mesa: Esquizoanálise, Economia Solidária e as Lutas Instituintes.
Participantes: Sônia Geib (Ub), Fábio Martins (PR), Fabiana de Andrade Campos (BH)
Mediadora: Maria Rosa Jané Pujol* (Itaobim)


Sala 3
Mesa: Rede de Atenção Básica- Progressos e Retrocessos.
Participantes: Lucas Paiva Gomes (OP), Conceição Rezende (Betim), Núncio Sol (OP), Túlio Alberto Figueiredo* (ES)
Mediadora: Lúcia Aquino (Betim)


Sala 4
Mesa: Esquizoanálise e Esquizodrama - Klínica da Psicose e Cuidado da Crise.
Participantes: Celso Peito Macedo (Ub), kamilla de Falco (Ub), Carmen Lent (RJ), Eliane Cordeiro (Ub)
Mediador: Thiago Pithon (RJ)


Sala 5
Vídeo: Última entrevista na TV francesa de Félix Guattari (legendado em português)
Alfredo Martin (RS), Ana Isabel Crespo (Portugal)


Sala 6
Esquizodrama: O Enfurecimento Criativo.
Coletivo Devir (SP)

   
18:30 – 20:00h

Auditório
18:30 às 20:00h
Conferência: Esquizodrama - As Cinco Klínicas Principais.
Gregório F. Baremblitt (BH)
Mediador: Milton Bicalho (BH)


Sala 1
Esquizodrama - Klínica da Alegria.
Patrícia Ayer de Noronha (BH), Clarissa Alcântara (BH), Lidiston Pereira da Silva (BH)


Sala 2
Mesa: Saúde Mental. Reformas e Revoluções.
Participantes: Flávia Fernando Lima Silva (PB), Marco Aurélio Soares Jorge (RJ), Priscila Coimbra Rocha (MA), Carlos Eduardo Nunes Pereira (OP)
Mediadora: Vivian Ferraz Studart (RJ)


Sala 3
Mesa: Oficina “Ecologia Maquínica”
Participantes: Alfredo Martin (RS), Ana Isabel Crespo (Portugal)


Sala 4
Mesa: Da Inclusão ao Cuidado Libertário.
Participantes: Silvia Matumoto* (SP), Celso Peito Macedo (Frutal), Liliane Cristina de Além Mar Silva (Ub), Raquel Bessa* (Ub)
Mediadora: Aparecida Cruvinel (Araxá)


Sala 5
Apresentação de trabalhos
Mediadora: Míriam Gomes Almeida (BH)

Sala 6
Esquizodrama: Klínica do Fora.
Elizabete Gomes (BH), Matheus Silva (BH), Rafael Lovisi (BH), Sabrina Andrade (BH)


Dia 25 de setembro (domingo)

9:00 – 10:30h

Auditório
Esquizodrama: Vertentes e Transversalidades Filosóficas, Científicas, Artísticas, Políticas, Populares e da Desrazão.
Participantes: Ana Isabel Crespo (Portugal), Clarissa Alcântara (BH), Maria de Fátima Oliveira (Ub), Fernando Yonezawa (SP)
Mediador: Neusa Beatriz Henriques (BH)


Sala 2
Mesa: Esquizoanálise e Esquizodrama - Redes, Rizomas e Movimentos Sociais.
Participantes: Carmem Lent (RJ), Fábio Martins (PR), Débora Elias (BH)
Mediadora: Sabrina Andrade (BH)


Sala 3
Mesa: A Klínica - Encontros e Desencontros.
Participantes: Marília Muylaert (SP), Eduardo Losicer (RJ), Bruno Vasconcelos de Almeida (BH)
Mediadora: Odila Braga (Ub)


Sala 4
Mesa: Esquizoanálise e Esquizodrama: Universidade e Inclusão.
Participantes: Pedro Perini (BH), Cristina Carla Brasil (BH), Margarete Amorim (BH), Liliane Além Mar Silva (Ub)
Mediadora: Christine Vianna Algarves (OP)


Sala 5
Apresentação de trabalhos
Mediadora: Celina de Faria Rezende (BH)


Sala 6
Esquizodrama: O que pode um grupo?
Maria Luiza Marques Cardoso (BH)


11:00 – 12:30h

Auditório
Mesa: Esquizoanálise - A História e a Klínica Universal.
Participantes: Alfonso Lans (Uruguai), Heliana Conde Rodrigues (RJ), Patrícia Ayer de Noronha (BH)
Mediador: Fábio Martins (PR)


Sala 1
Esquizodrama: Agora, um dispositivo de experimentação do corpo e do tempo.
Bernardino Pereira Lopes Neto (Ub), Maria de Fátima Oliveira (Ub), Simone Alves Cavalcanti (Ub), Cláudia de Souza (DF)


Sala 2
Laboratório: Arte e Inclusão
Marcelo Xavier (BH)
Mediador: Cláudio Márcio de Lima (BH)


Sala 3
Mesa: As afectos em Espinoza.
Participantes: Lidiston Pereira da Silva (BH), Cíntia Vieira (BH), Patrícia Ayer de Noronha (BH), Júlio Jader Costa (BH)
Mediadora: Gisele Baeta Nunes (OP)


Sala 4
Mesa: Teatro e Anarquia.
Participantes: Clarissa Alcântara (BH), Marcelo Kraiser (BH), Luis Carlos Garrocho (BH)
Mediadora: Lenine Guevara (BA)


Sala 5
Mesa: Práticas em Análise Institucional e Esquizoanálise.
Participantes: Roberta Romagnolli (BH), Carmen Cristina Rodrigues Schfler (BH), Ricardo Wagner (Uberlândia)
Mediadora: Priscila Tâmis* (SP)


Sala 6
Esquizodrama: CorpoEscritaTecido.
Ana Lygia V. Schill da Veiga, Tarcísio Moreira Mendes
(3h/duração)

  Almoço


14:30 – 16:00h

Auditório
Mesa: Esquizoanálise e Esquizodrama - Subjetividade e Subjetivação. Multidão. Os Novos Espaços da Liberdade.
Participantes: Jorge Bichuetti (Ub), Alfredo Martin (RS), Margarete Amorim (BH)
Mediador: Celso Peito Macedo (Frutal)


Sala 1
Esquizodrama - Klinica do Caos, Caosmos e Cosmos.
Maria de Fátima Oliveira (Ub), Lenine Guevara (BA), Celso Peito Macedo (Frutal)

Sala 2
Mesa: Contribuições da Performance e do Teatro ao Esquizodrama.
Participantes: Lenine Guevara (BA), Matheus Silva (BH), Clarissa Alcântara (BH), Caio César Souza (Ub)
Mediador: Cláudio Márcio de Lima (BH)

Sala 3
Mesa: Experiências em Análise Institucional.
Participantes: Adriana Penzin (BH), Isabel Marazina* (SP), Nelma Aragon (RS), Ana Rita Trajano (BH)
Mediadora: Sílvia Eulálio de Souza (BH)


Sala 4
Apresentação de trabalhos



Sala 5
Apresentação de trabalhos
Mediador: Wanderson da Conceição Silva (BH)


Sala 6
Esquizodrama: Como dizer o indizível?
Paola Carvalho (OP), Luciane Trevisan (OP)

   
16:30 – 18:00h

Auditório
Assembléia

Espaço Livre:

Instalação: À expreita da montagem.
Roberta Stubs Parpinelli (PR)
Erick Guerra (PR)
Fernando Amorim (PR)


Instalação:
Margarete Amorim
Patrícia Ayer
Lidiston Pereira da Silva

domingo, 17 de julho de 2011

A DROGA DA MÍDIA: MAIS DO QUE NÃO SE SABER O QUE FAZER COM O CRACK, NÃO SE SABE FALAR DELE – ANTÔNIO LANCETTI




A droga da mídia
Mais do que não se saber o que fazer com o crack, não se sabe falar dele


Antônio Lancetti* 


Com honrosas exceções, como a matéria de Eduardo Duarte Zanelato publicada pela revista Época, caderno São Paulo, no dia 27 de março passado e intitulada "Elas tiram as pedras do caminho, a rotina das agentes de saúde que trabalham na cracolândia para convencer os usuários de drogas a se tratarem da dependência", a mídia tem se dedicado a publicar matérias e programas televisivos sensacionalistas e irresponsáveis a respeito do crack.


Muitas equipes de reportagem acompanharam o trabalho de agentes de saúde, enfermeiros e médicos que conseguem romper o cerco que existe entre esses intocáveis e o resto da sociedade. 


Foram testemunhas da persistência desses trabalhadores do SUS, do conhecimento de histórias de pessoas com vidas difíceis, quando não escabrosas, que são cuidados, que pedem ajuda.


Mas não deram uma linha a respeito.


Esses repórteres conheceram homens, mulheres, jovens e crianças que deram um curso inesperado a suas vidas, e estão sendo atendidos pelas equipes de saúde da família ou pelos Centros de Atenção Psicossocial - CAPS Álcool e Drogas e Infantil da Sé, mas preferem divulgar a ideia de que, se você fumar uma pedra de crack, nunca mais se livrará dela, que a pedra custa cinco reais e que por dois reais você pode adquirir outra destilada com querosene ou gasolina chamada oxi.


E dá o endereço: Rua Dino Bueno com Helvetia ou seu entorno chamado "cracolândia paulistana".


Depois da carga midiática, a população flutuante que frequenta a região dos Campos Elíseos e adjacências aumentou significativamente.




Se durante a semana há centenas de pessoas nas ruas usando crack, durante o fim de semana são milhares.


É só conferir.


Em 1979, Gilles Deleuze produziu um texto luminoso que começa afirmando: "Está claro que não se sabe o que fazer com a droga (mesmo com os drogados), porém não se sabe melhor como falar dela" (Duas Questões, in SaúdeLoucura 3, Hucitec, São Paulo, 1991).


Hoje, em 2011, também não sabemos o que fazer com a droga, temos muitas dificuldades para cuidar dos drogados e não sabemos, ou sabemos muito mal falar dela.


Quando alguém se candidata a tratar, cuidar ou, ilusoriamente, salvar essas pessoas, passa a fazer parte de um conjunto-droga: produção, distribuição, consumo, repressão, tratamento...


Ser cuidador dessas pessoas requer adentrar em um território complexo, controverso e fascinante.


De que serve o consultório se eles não vão às consultas?


Ou as unidades de saúde que abrem às 7 horas da manhã, se a vida nas bocadas invade a madrugada?


Em São Paulo, os profissionais do Sistema Único de Saúde conseguem se vincular com essas pessoas, baseados na práxis do cuidado, na posição ética de defensores da vida e de promotores de cidadania.


Mas esses profissionais enfrentam inúmeros obstáculos.


Quanto custa conhecer a biografia de um "noia"?


Conseguir que a pessoa tire seus documentos e adira ao tratamento de sua tuberculose, sífilis ou AIDS?


Ainda mais quando chegam os guardas municipais, com seus famosos rapas e deixam essas pessoas sem documento e sem remédios.


O afeto dos agentes de saúde colide com o gás de pimenta da GCM Guarda Civil Metropolitana, a truculência da Polícia Militar, a falta de vagas em abrigos, a ausência de locais atrativos para homens e mulheres como um dia foi o Boraceia.


Na edição 56 da revista Piauí, Roberto Pompeu de Toledo, em "Crianças do Crack", mostrou detalhes da vida de alguns jovens e algumas crianças e o impasse sistemático da metodologia do Serviço de Atenção Integral ao Dependente (SAID), hospital psiquiátrico conveniado com a Prefeitura de São Paulo e que importa um pacote de tratamento norte-americano.


Os meninos e meninas magistralmente descritos nessa matéria lá estão, em sua grande maioria graças ao vínculo de confiança conquistado pelos agentes de saúde, médicos e enfermeiros do Projeto Centro Legal e do Programa de Saúde da Família do Centro da Cidade de São Paulo.


Porém, uma vez lá internados, nessa e em outras clínicas, eles perdem o contato com seus cuidadores.


A metodologia centrada exclusivamente na internação hospitalar não se relaciona com os universos onde as pessoas vivem e por isso os processos terapêuticos ficam truncados.


É preciso repetir incansavelmente: não é possível enfrentar de modo simplificado problemas de tamanha complexidade.


Não é verdade que se você experimenta uma vez uma pedra de crack se tornará um viciado, essa ideia só funciona como alma do negócio.


Não é verdade que a internação seja "a solução" para o tratamento dos drogados, se assim fosse não haveria nas clínicas pessoas com 30, 40 ou 50 internações.


Também não é verdade que os verdadeiros toxicômanos mudem com qualquer metodologia clínica conhecida.


É preciso ter condições sociais, relacionais, biológicas e institucionais para se transformar em um verdadeiro toxicômano.


Mas cocaína e crack são absolutamente funcionais a uma sociedade que funciona por falta.


O efeito fundamental dessas drogas é o da fissura, da falta de drogas e é disso que as pessoas se tornam adictos: da falta do produto e do produto que produz quimicamente falta.


E assim como a sociedade capitalista vive da produção de falta, a mídia vive da produção de notícia ruim.


Os espectadores e leitores, transformados em voyeurs, consomem horas de TV e páginas de jornais e revistas.


Mas a formação do caráter do cuidador ensina ao mesmo tempo nunca cantar vitória e procurar os pontos e linhas de vida em qualquer experiência.


Vemos que nem tudo está perdido.


Enquanto termino de redigir estas linhas, leio na Folha de S.Paulo a entrevista de Paulina Duarte, Secretária Nacional de Políticas sobre Drogas, sob o título "Falar que o País vive epidemia de crack é grande bobagem", no qual pode se apreciar serenidade e seriedade.


Mais além de começar a desmontar essas ideias alarmistas e que incitam ao consumo, a mídia poderia se questionar a respeito da eficácia de sua ação e divulgar com maior cuidado os resultados positivos do trabalho de tratamento dos CAPS - Álcool e Drogas, dos consultórios de rua, da equipes de redutores de danos, dos atendimentos de urgência em hospitais e pronto socorros, etc.


O trabalho das equipes de Saúde da Família do Centro da Cidade de São Paulo precisa ser estudado.


Elas são a porta de entrada para um mundo quase impenetrável e se pudessem atuar de modo integrado, sem dúvida, teriam maior eficácia.


Nunca esquecendo de que o problema das drogas não é de exclusiva competência da saúde.


As manobras e propagandas contra as drogas só promovem exclusão e incitação ao uso.


E por outro lado, como afirmou um enfermeiro que atua na região, a cracolândia é o lugar mais democrático da cidade, ali qualquer um é aceito.


Divulgando cada passo positivo, valorizando o trabalho desses cuidadores, a mídia provavelmente não faria bons negócios, mas contribuiria para uma das mais preciosas tarefas da construção da democracia: a de tratar como cidadãos os nossos piores congêneres.

*Psicanalista, autor de Clínica Peripatética (Editora Hucitec). Morador do bairro Campos Elíseos, em São Paulo, próximo à cracolândia.